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sábado, 20 de agosto de 2011

Hoje eu sou Alice.

Nove personalidades, uma mente torturada

“Em 'Hoje eu sou Alice' a autora relata a jornada de uma vítima de transtorno de múltipla personalidade, que precisou lutar contra a anorexia, o álcool e contra nove personalidades alternativas que emergiram após ficarem adormecidas diante de uma infância cruel. Sem controle, Alice entregou-se a elas - e sua vida passou a ser um caleidoscópio de acontecimentos e revelações. Este é o relato sobre uma doença e sobre a história de uma mulher que decidiu lutar contra a realidade e a imaginação."

Eu comecei a ler o livro há apenas poucos dias, e não tenho palavras para descrevê-lo.
 
          Alice sofreu abuso sexual de seu pai desde os 6 meses de idade até a adolescência. Durante a narração, ela não nos conta logo de cara por quem são cometidos os abusos, ela nos deixa descobrir lentamente. Quando eu descobri, tive que parar de ler, só para absorver a idéia. Minha mãe pediu para que eu não lesse esse livro, por causa de seu tema, mas aconteceu com alguém, Alice é real, ela deixou vir a tona todas as suas lembranças mais dolorosas para que esse livro fosse escrito, para que o mundo soube-se que aconteceu, e que por mais triste que seja, acontece ainda no mundo inteiro, a vida não é nenhum conto de fadas, e nós precisamos saber disso. Por tanto, quando se deparar com uma cena chocante, não jogue esse livro de lado e nunca mais volte a tocá-lo, se Alice sobreviveu aquelas cenas, você pode muito bem ler elas e sair vivo. 
            “Quem é a menininha do papai?"         "Sou eu "

              Nascida no meio de uma família modelo, com um irmão quatro anos mais velho e um pai e uma mãe que viviam aparentemente bem, Alice se vê perdida entre a confiança depositada na figura paterna e a confusão por tudo o que é obrigada a fazer. Dessa confusão nascem personalidades diferentes, todas elas aparecem como um mecanismo de defesa para afastar Alice de seu pesadelo.
              Cada personalidade de Alice serve para enfrentar uma parte de sua vida que ela não conseguiria enfrentar sozinha, os abusos para ela aparecem como sonhos, não lembranças, e ela se sente culpada por ter pensamentos tão pervertidos.
              Porém, tamanha a tortura psicológica que na adolescência Alice fica anoréxica e ouvindo vozes, passa a se consultar com uma psicóloga indicada pela escola, mas por ainda não enfrentar o problema de frente não consegue se abrir.
              Já na época de seu mestrado, a verdade de tudo o que sofreu cai sobre ela, e é a partir daí que seu mundo desmorona e que ela se vê obrigada e impulsionada a encarar tudo de frente e enfrentar seu agressor. Suas nove personalidades vão desde um garotinho que só chora, passam por uma pré-adolescente que se desvincula de Alice e toma para sim as dores da violência sexual e culmina numa personalidade agressiva, que tem verdadeira repulsão por Alice e por tudo o que ela representa: O Professor.
A busca pela sanidade e os relatos são de uma clareza tão desconcertante que é impossível não sentir ódio e revolta a cada página do livro. Uma leitura forte, onde fica praticamente impossível tirar uma citação que seja apropriada para postagem.
Vou então deixar aqui o relato da própria Alice no prólogo do livro, explicando porque resolveu escrever e contar sua história:
          “Ao longo de toda a minha infância, sofri abuso sexual, físico e emocional, e não contei a ninguém. Este livro descreve como na infância desenvolvi “mecanismos” para lidar com o abuso e como agora, adulta, tenho lutado para levar uma vida normal em meio a períodos de psicose, crises nervosas, vício em drogas e automutilação. Não me desculparei pela linguagem chocante em alguns trechos e pelas verdades indigestas que precisam ser contadas.
O abuso infantil é algo inimaginável para os que não foram vítimas dele, ao passo que  é o inferno para os que sofrem diariamente com o sentimento da vergonha e à noite são tomados pelo medo de que a porta seja aberta e que o homem – quase sempre é um homem – entre em seu quarto. Na maioria das vezes, o abuso se dá em casa e geralmente envolve parentes próximos – pais, irmãos etc.”
Página 13

Alice fala também se o livro servir para que uma pessoa que sofra o mesmo tipo de abuso, não mais se sentir só, e resolver denunciar seu agressor, o desabafo e a exposição terão valido à pena.


          Se você que esta lendo essa postagem já sofreu ou sofre abusos tanto sexual, físico ou psicológico, busque ajuda, você pode vencer isso. E saiba, que se você passou por isso e saiu viva(o), você é a pessoa mais forte que já conheci, você é minha(meu) heróina(herói). O número para denuncias é 181. Boa Sorte. 

Um comentário:

  1. Uau, me pareceu forte mesmo, mais interessante. Quando puder vou ler. Parabéns pela sinopse ficou otima e deu vontade de ler mesmo...
    http://senhoritaliberdade.blogspot.com/

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